_____________________________________
Clube das Histórias
Um Incentivo à Leitura
_____________________________________
Caros Senhores,
A equipa responsável por Clube das Histórias: Um Incentivo à Leitura é composta por um grupo de pessoas dedicadas a promover o prazer de ler histórias. A equipa envolvida tem vindo, desde há alguns anos, a trabalhar em conjunto com escolas, bibliotecas e outras instituições, com a finalidade de incentivar o gosto pela leitura junto de pessoas de diferentes faixas etárias.
Tomámos também a decisão de alargar o público alvo e de dar a conhecer o nosso acervo de textos, via email e numa base semanal, a todos os que estiverem interessados em recebê-los. A iniciativa Clube das Histórias tem vindo, desde então, a difundir-se de uma forma significativa não só em Portugal mas também no Brasil e nos Países Africanos de língua portuguesa.
O Clube das Histórias visa assim promover a literacia, através da leitura de pequenos textos capazes de permitir uma reflexão sobre princípios fundamentais da sociedade de hoje, e de transmitir valores como a solidariedade, a justiça, a generosidade e a tolerância, entre muitos outros.
Esta iniciativa consiste no envio por email de duas histórias semanais de forma totalmente gratuita. As histórias enviadas destinam-se, uma, a um público infantil; outra, a adolescentes e adultos.
As duas histórias poderão ser lidas no corpo da mensagem ou, o que aconselhamos, nos anexos PDF, onde são apresentadas com texto e imagens a cores.
Se tiver interesse em aderir a este projeto, cujo convite receberá apenas durante duas semanas, deverá inscrever-se seguindo as instruções abaixo. A inscrição é totalmente gratuita e pode cancelá-la quando desejar. Asseguramos-lhe ainda que o seu endereço de email permanecerá estritamente confidencial.
Se pretender continuar a receber as histórias semanais, copie no campo do assunto:
"Sim, desejo inscrever-me no projeto: Clube das Histórias (Portugal)"
"Sim, desejo inscrever-me no projeto: Clube das Histórias (Brasil)"
Se não quiser receber as histórias semanais, copie no campo do assunto:
"Não estou interessado(a) em participar no projeto: Clube das Histórias"
Se nada disser, deixará de receber este convite ao fim de duas semanas.
Neste momento, estamos a gerir projetos semelhantes em Alemão, Espanhol, Francês e Inglês. Se desejar receber (sempre gratuitamente) histórias noutras línguas, pode responder a este email indicando a(s) sua(s) escolha(s):
- Alemão - Mit Geschichten groß werden
- Espanhol - Cuentos para crecer
- Francês - Histoires à faire rêver
- Inglês - Joy of Reading
Com a convicção de que esta iniciativa irá merecer o interesse dos nossos leitores, agradecemos desde já a atenção dispensada.
A Equipa Coordenadora de Clube das Histórias
_____________________________________
A cadeira que quis ser trono
Esta cadeira não tinha os pés bem assentes no chão. Era uma cadeira um pouco desequilibrada, como vão apreciar.
Nada a distinguia de milhares de outras cadeiras modestas, toscamente pintadas, para enganar o caruncho. Tinha quatro pernas, assento de bom tamanho e umas costas muito direitas, que a faziam parecer senhora espartilhada e altiva. Esquecida a um canto da casa, infeliz com o seu destino de cadeira vulgar, suspirava todo o santo dia:
Por mais que queira, não me conformo. Puseram-me para aqui, nesta casa insignificante, quando podia estar em lugar de destaque, num salão de luxo. Triste sina.
Os bancos, muito amigos da galhofa, riam-se destas falas. Um deles, um velho mocho de sapateiro, dizia-lhe assim:
Naturalmente, queria ser trono, não?
Para trono faltam-lhe os braços notava um banco de cozinha.
E falta-lhe a madeira... acrescentava um outro. Onde é que já se viu um trono de pinho?
Os bancos voltavam a rir-se, de frente para a cadeira, que nem as costas lhes podiam voltar.
Deixem a pequena em paz aconselhava a mesa que era muito boazinha.
Tem as suas fraquezas, que querem? Se lhe pusessem um calço por baixo de um dos pés, talvez lhe passasse o desequilíbrio. O mal foi terem-na feito com madeira ainda verde.
A senhora mesa está sempre pronta a desculpá-la dizia o mocho.
É que eu também tive ambições, quando era nova. Quis ser mesa de banquetes, imaginem! Só me via vestida com uma grande toalha de linho e rendas, enfeitada de castiçais de prata, coberta de travessas finas e talheres reluzentes... Sonhei com este banquete mil vezes, mas nunca me deram nenhum.
Os bancos ficaram calados. Falando-se em coisas sérias, os bancos não sabiam o que dizer.
Mas não me sinto infeliz continuou a mesa. Aqui os talheres são foscos e os pratos, rachados. Quase nunca me cobrem com toalha, mas as mãos das pessoas passam sobre mim e fazem-me festas. Os cotovelos apoiam-se ao meu tampo. Os dedos batem-me ao de leve, enquanto esperam pela terrina da sopa e pelo pão, acabadinho de sair do forno. Sei que as pessoas matam a fome e a sede à minha volta, sei que gostam de mim e não me dispensam. Vale a pena ser mesa.
"Aquela contenta-se com pouco", pensava a cadeira, empertigando-se ainda mais nas suas quatro pernas fraquinhas.
Um dia, passou por ali um vistoso cortejo de cavaleiros. Era o rei que ia à caça, em companhia dos seus fidalgos. O séquito atravessou a galope a única rua da aldeia.
As mulheres, os homens e as crianças, que nunca tinham visto cavalos tão bonitos nem cavaleiros tão bem vestidos, vieram às janelas e disseram adeus com lenços.
Na casa desta história, não se falou noutra coisa, durante o resto do dia.
A cadeirinha, essa, só suspirava de si para si: "Ah, se o rei me levasse...!"
Voltaram a passar pela aldeia, ao fim da tarde, os cavaleiros. Traziam caça grossa: javalis, raposas e veados, atravessados nos cavalos. E vinham cansados os cavaleiros.
De todos, o mais amolentado era o rei. Gordo, muito gordo, o rei estava farto de correrias, caçadas e solavancos. O que queria era repouso.
Das portas abertas das casas vinha um cheirinho apetitoso a pão desenfornado. Sua Majestade tentou-se pelo cheiro e, fazendo um gesto, mandou parar a comitiva.
O estribeiro-mor ajudou-o a descer do cavalo, o que ainda foi difícil, e amparou-o até à soleira de uma porta, precisamente a porta da casa onde se passa esta história.
O casal de velhinhos que lá vivia assarapantou-se com a visita. Servir-lhe um pão saído do forno, barrado com manteiga fresquinha, não exigia grandes conhecimentos de etiqueta, mas onde sentar tão ilustre visitante?
Traz a cadeira, mulher. Depressa! gritou o camponês.
Era a única cadeira da casa, a tal de que temos falado. Finalmente, ia provar aos bancos trocistas que uma cadeira, mesmo de pinho, sabe servir com fidalguia os grandes da terra e amparar-lhes o peso do poder. Eles que a vissem, frágil cadeirinha, fazer as vezes de um trono, pois então!
Podíamos acabar aqui a história, que acabávamos bem. Mas há contratempos...
Os camponeses chegaram a cadeira a Sua Majestade, que se refastelou. Fosse do inesperado peso ou da emoção, a pobrezinha gemeu... gemeu... e, não se segurando nas pernas, desconjuntou-se toda, com o rei em cima.
Catrapumba! Cai o rei no meio do chão, alarma-se o séquito, assustam-se os camponeses e, dentro de casa, quase se desmancham a rir os bancos e os banquinhos.
Amolgado e muito dorido, o rei lá se levantou:
Coitados, a culpa não foi deles disse o rei, referindo-se aos velhinhos.
Dêem-lhes dinheiro para uma cadeira nova. Ai!
Foi-se embora o séquito real. A cadeira, triste monte de tábuas carunchosas, ficou onde se tinha partido. Lenha para o forno, não tarda...
António Torrado
_____________________________________
Duas cabras numa ponte
Uma ponte estreita ligava duas montanhas. Em cada uma das montanhas vivia uma cabra. Dias havia em que a cabra da montanha ocidental atravessava a ponte para ir pastar na montanha oriental. Dias havia em que a cabra da montanha oriental atravessava a ponte para ir pastar na montanha ocidental. Mas, um dia, as cabras começaram a atravessar a ponte ao mesmo tempo.
Encontraram-se no meio da ponte. Nenhuma queria ceder passagem à outra.
Sai da frente! gritou a Cabra Ocidental. Estou a atravessar a ponte.
Sai tu da frente! berrou a Cabra Oriental. Quem está a atravessar sou eu!
Como nenhuma delas queria recuar e nenhuma delas podia avançar, ali ficaram, enfurecidas, durante algum tempo. Finalmente, entrelaçaram os chifres e começaram a empurrar. Eram tão semelhantes em força que apenas conseguiram empurrar-se uma à outra da ponte abaixo.
Molhadas e furiosas, saíram do rio e subiram a encosta, a caminho de casa, cada uma murmurando para si: "Vejam só o que a teimosia dela provocou."
Margaret Read MacDonald
acb@clubedashistorias.com